Médico de Família Fonte – SAPO
A pandemia de Covid-19 tem contribuído para o aumento do número de depressões e ataques de pânico em Portugal, numa degradação da saúde mental que pode ser comparada ao que aconteceu no 11 de setembro.
Quem o diz é a psicóloga Catarina Graça, em declarações ao ‘Correio da Manhã’ (CM). “Há marcas que ficaram, depois do atentado, e que nos vão definir para sempre, e acho que o mesmo se vai passar com esta doença”, refere.
“As pessoas tiveram de se confrontar com mudanças drásticas nas suas vidas, muitas reagiram mal ao teletrabalho, outras estão a sentir um grande embate no regresso às rotinas antigas”, sublinha.
A especialista dá o exemplo “de uma pessoa que andava de carro para todo o lado e agora voltar às estradas e ao trânsito da cidade faz-lhe confusão e provoca-lhe ataques de pânico. Parece que ao confinarmos nos desabituámos de resolver os problemas do dia a dia e bloqueamos perante os obstáculos mais insignificantes”, explica.
Catarina Graça destaca ainda o facto de a pandemia ter retirado a sensação de controlo à população “Tenho muitos pacientes que ficaram com medo da mudança e que se tornaram pessoas mais inseguras”, revela ao ‘CM’.
“Hoje em dia, tudo muda repentinamente e há muita gente que está a sentir dificuldade na gestão da vida, porque não consegue planear nada. O ser humano gosta de controlar quanto baste e a pandemia tirou-nos essa sensação de controlo. Tornou-nos muito mais ansiosos”, aponta.
Por outro lado, a psicóloga indica que a pandemia levou os portugueses a procurarem mais ajuda, deixando de ter vergonha ou pudor em fazê-lo. “Muitas pessoas ainda tinham aquele pudor em ir ao psicólogo, como se fosse sinal de fraqueza ou loucura. Mas isso tende a desaparecer. Há uma maior procura dos gabinetes de Psicologia, com tendência para a continuidade”, refere.
